Capítulo 10
- … 18… 19… 20!
Os braços tremiam de esforço ao pousar os halteres nos apoios. Era a sexta série que fazia seguida, os músculos estavam doridos e conseguia sentir o sangue pulsar na jugular. Limpou o fio de suor que lhe escorria cara abaixo ao pegar na toalha. Estava praticamente sozinho no ginásio com a exceção de dois atletas de competição que tinham o dobro da sua estatura. David libertava ali toda a tensão acumulada, a levantar ferro como lhe chamava. Mas continuava incomodado e ansioso. Além do trabalho, sabia que a última questão de Marco pesava na sua balança, o amigo tinha o condão de perante as suas feridas fazer questões que o faziam recordar.
Dirigiu-se ao balneário e tomou um duche demorado quase que pedindo que a água lhe lavasse a alma além do corpo. Sabia que não ia conseguir dormir, então entregou-se à sua lógica e foi simplesmente trabalhar.
O médico legista já tinha feito o relatório da autópsia, e uma cópia tinha sido deixada em cima da sua secretária. A sua equipa também tinha analisado as provas recolhidas no local, mas como perfeccionista que era, vestiu a sua bata branca e colocando-se de frente para a bancada onde estavam todos os sacos documentados, reviu cada um deles.
Nada. Sem impressões digitais, tudo limpo, nenhuma pegada, nenhum vestígio de material biológico além da vítima. Começou a sentir-se vazio, quem quer que lá estivesse estado usara luvas e fora extremamente calculista em todos os movimentos. Voltou à secretária, e recostado na cadeira começou a ler o relatório da autópsia.
- “Marcas nos pulsos, foram recolhidas fibras de corda para análise… pelas marcas estivara amarrada antes da morte umas duas horas… pele com queimaduras de segundo e terceiro grau… várias nódoas negras…” – respirou fundo tentando controlar-se. – “A pancada contundente da têmpora revelou sangue coagulado junto ao cérebro sendo consistente com perda de sentidos”.
«Foi assim que a surpreendeste, não foi? Colocando-a inconsciente tiveste acesso à casa.»
O legista tinha detalhado todos os pormenores, e algo lhe chamou a atenção, algo que não tinha sido percetível para ele quando viu o corpo. O relatório continha a informação do golpe final, uma perfuração no peito que rompera a aurícula esquerda. Fora direito às imagens que detalhavam as medidas, 25 centímetros de comprimento por um diâmetro de 1,1 de largura. David gelou subitamente. Ficou pálido e sentiu o formigueiro no abdómen.
«Não… não pode ser. É impossível.»
Fez uma busca rápida no sistema para possíveis armas com aquelas dimensões, e não obteve correspondência. Foi diretamente a um relatório com cerca de 10 anos… o seu. As dimensões eram semelhantes.
«É impossível!! Não pode ser o mesmo, eu mesmo vi o corpo.»
Tentou manter a compostura e o pensamento frio, nada do que vira naquela casa parecia adequar-se à arma do crime, o que significava problemas.
- Levaste tudo… as cordas, as luvas e… o espeto de ferro que tu próprio fizeste.